SALA 16
HERIVELTO MARTINS O REGIONAL JOÃO DA BAIANA BENEDITO LACERDA MEIRA BENÊ E PIXINGA

HERIVELTO MARTINS

HERIVELTO MARTINS

Herivelto de Oliveira Martins nasceu em Engenheiro Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. Um dos maiores compositores da música brasileira, fez mais de 350 canções em sua longa carreira, sendo mais de 50 com Benedito Lacerda. Compôs sucessos como Praça Onze, com Grande Otelo, sobre a qual mais tarde declarou: "... botei o Otelo como parceiro, porque foi ele quem trouxe o tema e me obrigou a fazer a música..."; Ave-Maria no Morro, na qual queria ter Benedito como parceiro, mas o amigo aconselhou: "... melhor não, é música de igreja, não vai dar dinheiro!..."; Segredo, com Marino Pinto ("...O peixe é pro fundo das redes, segredo é pra quatro paredes..."). Foi casado com Dalva de Oliveira, grande intérprete de seus sambas. Morreu no Rio em 17 de setembro de 1992.

O REGIONAL

O REGIONAL

Grupo Gente do Morro
O samba desceu do morro por sua gente e assim Sinhô viu essa Gente do Morro, esse Benedito com sua gente, sua flauta, seus tambores, seus pontos de macumba, sua Primeira Linha, seus choros sambados e suas valsas choradas. Dentro do samba, junto descia a vida do morro, seu cotidiano, seu dia a dia, sua graça e sua pirraça, seu humor, sua ginga e malandragem. Seus encantos de sereias discando pra Netuno, amores bandoleiros pagando seus pecados se livrando dos feitiços do candomblé. Essa gente cantava sua vida, sua verdade. Esse grupo era a autêntica representação da linguagem do samba. Fazendo a fusão das linguagens tradicionais com o samba do Estácio, organizando o tocar, com seus músicos objetivos, aguçados, com funções claras, mas com jeito de preto. Benedito, o branco d'alma preta, deu início ao seu famoso regional com esse "Gente do Morro", tinha orgulho deste nome, tinha orgulho da sua gente, das suas raízes, mas como lembra Canhoto: - Quando da turnê do grupo ao Espírito Santo todos nos perguntavam porque não usávamos tamancos? Afinal éramos gente do morro! - Em grande parte se deveu ao preconceito, que o nome do grupo levava ao público o insucesso desta tentativa impar de divulgar o samba no norte do Brasil. Assim era o Grupo Gente do Morro: Benedito na flauta e vocal; Jacy Pereira, o Gorgulho e Henrique Brito nos violões; Júlio dos Santos no cavaco; Bide e Gastão de Oliveira nos tamborins; Juvenal Lopes no chocalho e Antônio Carlos Martins, o Russo do Pandeiro. Em várias gravações aparece a participação de um pianista, seria o Sinhô...Vadico???

JOÃO DA BAIANA

JOÃO DA BAIANA

Compositor e pandeirista, João Machado Guedes, nasceu em 17 de maio de 1887, no Rio de Janeiro. Filho de escravos, desde a infância teve como companheiros Donga e Heitor dos Prazeres. Na época o samba, a batucada e o candomblé eram manifestações proibidas, sendo necessária licença da polícia para suas reuniões. Nesse contexto, em 1908, João teve seu pandeiro apreendido. O senador Pinheiro Machado, que era seu admirador, sabendo do caso, resolveu presenteá-lo com um novo pandeiro com a seguinte inscrição: "Com a minha admiração, ao João da Baiana – Pinheiro Machado". Esse foi seu passaporte para o samba: nunca mais ele foi atormentado pela polícia. Segundo seu depoimento prestado ao M.I.S., ele teria sido o responsável pela introdução do pandeiro no samba: "...na época o pandeiro era só usado em orquestras. No samba, quem introduziu fui eu mesmo..." Em 1972, foi recolhido à Casa dos Artistas, em Jacarepaguá, onde morreu dois anos depois, no dia 12 de janeiro de 1974. Entre as participações de Benedito em seu trabalho, podemos destacar Perdi Minha Mascote, com Carmen Miranda e Patrício Teixeira, de 1933, pela Victor e Deixa Amanhecer, parceria com Bidê, interpretado por Almirante, 1935, pela Odeon.

BENEDITO LACERDA

BENEDITO LACERDA

Foi em Macaé, Rio de Janeiro que começou a tocar flauta na Banda Nova Aurora, depois aos 17 anos foi morar na cidade do Rio de Janeiro no bairro do Estácio berço do samba, onde em meados da década de 1920, o samba passou do sotaque amaxixado (maxixe, ritmo do choro) para uma cadência mais apropriada aos desfiles de carnaval na rua. Também no Estácio deu-se, em 12 de agosto de 1928, a fundação do bloco Deixa Falar, que entraria para a história como "a primeira escola de samba", reunindo os grandes compositores locais, como Ismael Silva, Nilton Bastos e Alcebíades Barcellos, o Bide, entre outros. Pois é neste grupo de sambistas que o nome de Benedito Lacerda aparece pela primeira vez na bibliografia sobre a história da música brasileira, participando do bloco Deixa Falar como tocador de surdo – instrumento de percussão de som grave que teria sido criado por este grupo para ditar o andamento do samba nos desfiles e que, inicialmente, era feito com uma lata de manteiga "encourada". Morto precocemente (aos 55 anos incompletos), numa terça-feira de carnaval, Benedito Lacerda foi um grande compositor de marchinhas com inúmeros sucessos carnavalescos, como A jardineira (com Humberto Porto), Eva querida e Querido Adão (com Luís Vassalo) Lero Lero (com Frazão), Vai haver o Diabo (com Gastão Viana), A cara do Fuehrer, A cobra está fumando ( com Haroldo Lobo) a Dança do Funiculi (com Herivelto Martins) Brinca coração, o diabo da mulher (com Ciro Monteirio), Palhaço (com Herivelto Martins), Rauuuul (com Haroldo Lobo) No Salguêro (com Ildefonso Norah), A caixinha do Ademar (com Herivelto Martins), entre muitas outras.

MEIRA

MEIRA

O violonista e compositor Jayme Tomás Florence nasceu em Paudalho, Pernambuco, no dia 1º de outubro de 1909. Em 1928, transferiu-se para o Rio de Janeiro, indo morar em companhia de João Pernambuco, seu conterrâneo. Foi vizinho de Noel Rosa em Vila Isabel. Sua música Minha Flauta de Prata foi gravada por Benedito Lacerda em 1933, ano em que Benedito ganhou como prêmio uma flauta de prata no concurso do jornal A Noite. Em 1934, gravou também o seu choro Primavera, depois conhecido por Arranca Toco. A partir de então, passou a ser parte fundamental do Regional de Benedito Lacerda. Altamente reconhecido por sua atividade didática, iniciou no violão grandes artistas como Baden Powell, João de Aquino e Raphael Rabello. Morreu em 8 de novembro de 1982, no Rio de Janeiro.

BENÊ E PIXINGA

BENÊ E PIXINGUINHA

Essa coisa toda partiu de uma menina de 15 anos, minha aluna de flauta, Corina, que apaixonada por choro me trouxe umas fitas velhas, coisa emprestada dos velhos chorões de Sampa, com gravações ao vivo do Benedito, do Pixinga e do Regional. Fiquei extasiado ao ouvi-los e começamos a pensar numa forma de mostrar a todos aquele jeito brejeiro de tocar choro, com alegria e sem ranço. Procuramos o Ricardo Manso, da Collector`s Studio (www.collectors.com.br) que mantém um trabalho de resgate espetacular, com registros de programas de rádio, jornais e um grande acervo musical. As gravações ao vivo do Pessoal da Velha Guarda eram fundamentais para compararmos com as gravações comerciais. Bem fomos pesquisando e nos aprofundando no conhecimento do Benê, flautista, cantor, chorão, compositor, sambista, carnavalesco, arranjador, polêmico, político, empresário, fazedor, idealista, criador, financista, patrão, letrista, fumante, sindicalista, o branco d'alma preta. Montou-se, então, um projeto para o Programa Petrobrás Cultural, um tanto ingênuo, para a realidade da sua obra que ainda estávamos pesquisando. Acabou sendo aprovado e na ora de por a mão na massa, de um álbum com 4 CDs, passou para um com seis e finalmente 3 volumes com 4 cds cada um, cronológico por assunto. O cd1 tem Benedito como solista, partindo de 1930; o cd2 tem a dupla Benê e Pixinga, partindo de 1946; os cd3 e 4 tem os enfoques Benedito carnavalesco, compositor de sambas, valsas, canções e acompanhante com seu primoroso regional. A obra do Benê é muito grande, consta de mais de 700 composições e mais de 1000 gravações. Em contato com o IMS (www.ims.com.br), que é outro acervo fantástico que disponibiliza milhares de gravações dos colecionadores Humberto Franchesci e do Ramos Tinhorão digitalizadas na Internet, conseguimos acesso aos fonogramas comerciais. Descobrimos que as gravações estavam fora de tom, desafinadas, sempre mais altas, devido à rotação diferente da gravação e da reprodução. Cada gravadora tinha o seu pitch, provavelmente pela ciclagem, a única afinada era a Brunswick, mesmo as gravações ao vivo também estavam fora do tom. Então todas as músicas foram afinadas no padrão Lá = 440HZ, o que resulta numa diferença brutal no andamento e no timbre, principalmente das vozes dos cantores, e acredito que isso seja um fato inédito. Também o trabalho de masterização foi direcionado para a clareza do todo e não dos solistas somente, todos os instrumentos tem o destaque que lhes foi dado na concepção original. Para isso o trabalho de limpeza de ruídos, chiados, cracks e outros, foi bem mais ameno do que o realizado comercialmente, onde muitas freqüências são cortadas praticamente anulando muitos acontecimentos. A inclusão de um "Abenedário" ilustrado trás os personagens que participaram deste período da vida de Benedito e a linha do tempo relata fatos do mundo entre 1900 e 1958, período em que viveu. Deixo claro que este trabalho é de resgate da obra musical de Benedito, que trás a tona muitas discussões e dúvidas que aqui tentam ser questionadas e não respondidas.