SALA 13
BENEDITO LACERDA JACOB DO BANDOLIM ERNESTO NAZARETH

BENEDITO LACERDA

BENEDITO LACERDA

Essa coisa toda partiu de uma menina de 15 anos, minha aluna de flauta, Corina, que apaixonada por choro me trouxe umas fitas velhas, coisa emprestada dos velhos chorões de Sampa, com gravações ao vivo do Benedito, do Pixinga e do Regional. Fiquei extasiado ao ouvi-los e começamos a pensar numa forma de mostrar a todos aquele jeito brejeiro de tocar choro, com alegria e sem ranço. Procuramos o Ricardo Manso, da Collector`s Studio (www.collectors.com.br) que mantém um trabalho de resgate espetacular, com registros de programas de rádio, jornais e um grande acervo musical. As gravações ao vivo do Pessoal da Velha Guarda eram fundamentais para compararmos com as gravações comerciais. Bem fomos pesquisando e nos aprofundando no conhecimento do Benê, flautista, cantor, chorão, compositor, sambista, carnavalesco, arranjador, polêmico, político, empresário, fazedor, idealista, criador, financista, patrão, letrista, fumante, sindicalista, o branco d'alma preta. Montou-se, então, um projeto para o Programa Petrobrás Cultural, um tanto ingênuo, para a realidade da sua obra que ainda estávamos pesquisando. Acabou sendo aprovado e na ora de por a mão na massa, de um álbum com 4 CDs, passou para um com seis e finalmente 3 volumes com 4 cds cada um, cronológico por assunto. O cd1 tem Benedito como solista, partindo de 1930; o cd2 tem a dupla Benê e Pixinga, partindo de 1946; os cd3 e 4 tem os enfoques Benedito carnavalesco, compositor de sambas, valsas, canções e acompanhante com seu primoroso regional. A obra do Benê é muito grande, consta de mais de 700 composições e mais de 1000 gravações. Em contato com o IMS (www.ims.com.br), que é outro acervo fantástico que disponibiliza milhares de gravações dos colecionadores Humberto Franchesci e do Ramos Tinhorão digitalizadas na Internet, conseguimos acesso aos fonogramas comerciais. Descobrimos que as gravações estavam fora de tom, desafinadas, sempre mais altas, devido à rotação diferente da gravação e da reprodução. Cada gravadora tinha o seu pitch, provavelmente pela ciclagem, a única afinada era a Brunswick, mesmo as gravações ao vivo também estavam fora do tom. Então todas as músicas foram afinadas no padrão Lá = 440HZ, o que resulta numa diferença brutal no andamento e no timbre, principalmente das vozes dos cantores, e acredito que isso seja um fato inédito. Também o trabalho de masterização foi direcionado para a clareza do todo e não dos solistas somente, todos os instrumentos tem o destaque que lhes foi dado na concepção original. Para isso o trabalho de limpeza de ruídos, chiados, cracks e outros, foi bem mais ameno do que o realizado comercialmente, onde muitas freqüências são cortadas praticamente anulando muitos acontecimentos. A inclusão de um "Abenedário" ilustrado trás os personagens que participaram deste período da vida de Benedito e a linha do tempo relata fatos do mundo entre 1900 e 1958, período em que viveu. Deixo claro que este trabalho é de resgate da obra musical de Benedito, que trás a tona muitas discussões e dúvidas que aqui tentam ser questionadas e não respondidas.

JACOB DO BANDOLIM

JACOB DO BANDOLIM

Nasceu no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1918. Começou a estudar violino aos 12 anos e, não se adaptando ao arco, passou a tocá-lo com grampos de cabelo, partindo então para o bandolim. Entrou para a música por meio de um convite de Benedito Lacerda para participar do Concurso dos Novos, na Rádio Guanabara, no qual conquistou o lº lugar. A partir daí, passou a revezar com o Regional de Benedito Lacerda nos programas da rádio. Aconselhado por Donga e sua esposa, Zaíra, prestou concurso e tornou-se escrevente, podendo assim se dedicar à música sem depender dela financeiramente. Entre o final de 1956 e 1958, Radamés Gnatalli escreveu Retratos, uma suíte para bandolim, orquestra e conjunto regional, em que homenageou Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga, e dedicou-a a Jacob, que teve de se aprofundar nos estudos para executá-la, realizando a gravação e a primeira audição em 1964. Em 1966, criou o conjunto Época de Ouro, que o acompanhou até o fim da vida. Em 1967, embora não querendo tocar para um público de jovens, foi convencido do contrário e realizou um dos mais antológicos shows de sua vida. Emocionado com a ovação, sofreu seu primeiro enfarte. Em 1969, morreu de enfarte após uma visita a Pixinguinha, em que acertavam uma gravação cuja renda seria revertida para Pixinga.

ERNESTO NAZARETH

ERNESTO NAZARETH

Ernesto Nazareth, considerado o fixador do tango-brasileiro, o Rei do Tango, nasceu em 20/03/1863 e morreu em 04/02/1934no Rio de Janeiro. Compunha, lecionava e vivia do piano. Suas partituras eram vendidas aos milhares, mas não lhe garantiam a sobrevivência, pela falta de ordenamento dos direitos autorais. "Brejeiro," composto em 1893 é considerado o marco do tango brasileiro. Atuava como pianista na sala de espera do Cine Odeon, que foi por ele inaugurado. As pessoas lotavam para ouvi-lo tocar, mais do que para ver os filmes. Em 1919 começou a trabalhar na Casa Carlos Gomes tocando as partituras que os fregueses se interessavam em comprar.
Gravou para a fábrica Odeon, em 1930, o tango-brasileiro "Escovando" e o choro "Apanhei-te Cavaquinho." Em 1932, fez várias excursões, principalmente para o sul do Brasil. Com o agravamento da surdez, tocava debruçado sobre o piano para conseguir ouvir sua própria música. Em 1933, apresentou graves perturbações mentais e foi internado no Instituto Neurosifilis da Praia Vermelha, sendo posteriormente transferido para a Colônia Juliano Moreira.

No ano seguinte fugiu e foi encontrado, 4 dias depois, afogado em uma represa. Há uma lenda segundo a qual ele teria sido encontrado morto debaixo de uma cachoeira. A sua postura era impressionante. Estava sentado, com a água lhe correndo por cima, com as mãos estendidas, como se estivesse tocando algum choro novo, que nunca mais poderemos ouvir...